A diferença entre os tipos de avaliação psicológica



Muitos pacientes têm dúvidas sobre a diferença entre as modalidades de avaliação que um psicólogo pode realizar. A principal dúvida que percebo é sobre a diferença entre avaliação neuropsicológica e avaliação psicológica. Desse modo, tentarei esclarecer um pouco das diferenças entre um modo de avaliação e outro.

A avaliação psicológica é realizada por um profissional formado na área da psicologia. Esse profissional tem como uma de suas competências a avaliação psicológica, bem como a elaboração de laudos, pareceres e relatórios de avaliação. Para a realização da avaliação, o profissional poderá se utilizar de entrevista, observações, protocolos ou instrumentos de avaliação conhecidos como testes. A aplicação de testes isoladamente não é indicada, sendo assim, ela não dispensa a realização de entrevistas como elemento fundamental. Algumas pessoas acreditam que a aplicação de testes é a única maneira de o psicólogo fazer sua avaliação, o que é um equívoco, tendo em vista que existem outras modalidades de avaliação psicológica que não aquelas que se utilizam unicamente deles. Na avaliação infantil, por exemplo, alguns profissionais avaliam fazendo entrevistas com os responsáveis aliadas a observações clínicas da criança em contextos de jogos e brincadeiras lúdicas. A utilização de testes e instrumentos de avaliação é feita como complementação da observação clínica e entrevistas não sendo indicada sua utilização isoladamente. A duração do período de avaliação pode variar de acordo com o tipo de quadro apresentado pelo paciente ou estilo do profissional responsável pela avaliação.

A avaliação psicológica pode ser utilizada em diversos contextos, tais como: clínicos, escolares, hospitalares, organizacionais, dentre outros. Em contextos clínicos, podem ser realizados dois tipos de avaliação: a chamada avaliação inicial ou entrevista inicial que é realizada como uma etapa anterior ao início do tratamento e tem a função de analisar o tipo de demanda apresentada, ou seja, se é um caso a ser atendido pelo profissional em questão ou a ser encaminhado para outra especialidade. A avaliação que se dá como parte do tratamento tem a função de análise das questões apresentadas pelo paciente e tem função de intervenção. Nos demais contextos, a avaliação é pontual podendo cumprir com a função de análise de características, aptidões e competências; identificação de transtornos comportamentais, psicológicos ou emocionais, dentre outros fatores de acordo com o objetivo da avaliação.

A avaliação neuropsicológica é uma modalidade específica de avaliação realizada por um profissional cujo referencial é a vertente da psicologia cognitiva e neurociências. Partindo do pressuposto de que para esses profissionais as funções cognitivas e psicológicas estão diretamente relacionadas ao funcionamento cerebral, esse tipo de avaliação tem, dentre outros objetivos, o de verificar o funcionamento de algumas funções cognitivas a partir da análise do desempenho do paciente durante a realização de algumas atividades. São estabelecidas comparações entre as médias de desempenho da população geral com os resultados do paciente em determinadas tarefas para a elaboração das conclusões sobre o caso. A avaliação neuropsicológica é focal e se realiza dentro de algumas sessões e não se configura como tratamento.

A avaliação neuropsicológica é um tipo de avaliação que cumpre fins específicos, principalmente no que se refere à orientação de outros profissionais quanto a conduta a ser desenvolvida em programas de reabilitação. Porém, nem todos os profissionais da psicologia concordam com a realização desse tipo de avaliação por considerarem que, em alguns casos, ela dá margem a uma concepção reducionista da psicologia humana, pois fatores como a história de vida do paciente e os contextos nos quais se encontra inserido possuem importância secundária para avaliação. Por exemplo, em casos considerados de hiperatividade ou déficits de atenção infantil, alguns profissionais (e eu me incluo nesse grupo) julgam mais adequado realizar avaliação psicológica clínica tendo-se em vista que algumas dinâmicas familiares favorecem o aparecimento e a manutenção de comportamentos nas crianças que podem ser confundidos com sintomas de hiperatividade ou déficits de atenção. Desse modo, as entrevistas e observações de comportamento que se dão no contexto clínico pelo constante canal de diálogo que se estabelece, além de possibilitar maior compreensão da dinâmica familiar envolvida, também possibilitam a realização de intervenções sobre essa mesma dinâmica, e assim, avaliação e tratamento são realizados simultaneamente.

Autora: Glenda Almeida Pratti
Psicóloga, Mestre em Psicologia e Psicanalista.

Nenhum comentário: