segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

AUTOCUIDADO E ALIMENTAÇÃO


AUTOCUIDADO E ALIMENTAÇÃO

A relação que temos com a nossa alimentação revela muito do nosso modo de funcionamento na vida. Funcionamentos muitas vezes tóxicos, destrutivos, exagerados, expansivos, eufóricos, compulsivos, desequilibrados, restritivos, mecânicos, apáticos, tristes.

Algumas pessoas se relacionam com o alimento a partir das regras "dos outros"; em outras palavras, não se alimentam; apenas "colocam para dentro" o que julgam extremamente necessário para garantir sua sobrevivência. Há aqueles que vêem no alimento um jeito de se anestesiar das próprias angústias, medos e frustrações; outros, por sua vez, consideram a alimentação, assim como o sono ou as necessidades fisiologicas, um transtorno  que toma o tempo que poderia ser utilizado em outras atividades como o trabalho. Essas pessoas "seguram" suas necessidades até o limite do suportável, mantendo assim, um processo diário de sofrimento ao próprio corpo. Já outros, em contrapartida, vêem na alimentação uma grande fonte de prazer, tanto que experimentam grande dificuldade em colocar um limite no propriocomportamento de comer.

O que há em comum entre todos esses exemplos é a dificuldade que essas pessoas possuem de se relacionar consigo mesmo, e consequentemente, de manifestar o autocuidado a partir do afeto voltado para si.

A respeito do sobrepeso, muitas vezes difunde-se uma "ideia de necessidade de controle" quando a questão muitas vezes é de dificuldade de contato/afeto:
Dificuldade de contato com o alimento propriamente dito; dificuldade de contato com a representação emocional que a alimentação assume na relação com o outro;
Dificuldade no contato com a demanda do outro; dificuldade de contato com as próprias demandas.

Assim, não é raro ouvir relato de pessoas que mesmo após dietas bem sucedidas ou realização de cirurgias bariátricas  desenvolvam processos depressivos ou comportamento compulsivo em relação ao álcool ou outras substancias; como um sistema de substituição sintomática. Nesses casos, fica claro que a questão não era os maus hábitos alimentares, "relaxo" ou falta de controle; mas sim algo muito mais profundo.

Nesse sentido, a comida pode estar ocupando um lugar e função específicos na vida dessa pessoa, de modo que, promover o rompimento ou o deslocamento abrupto dessa relação pode ser extremamente grave e desorganizador do ponto de vista psicológico.

Por isso, antes da adesão a dietas radicais, intervenções invasivas para redução de peso, ou mesmo a culpabilizacao pelo insucesso na redução de medidas, faz- se importante, como uma demonstração de cuidado, atenção e gentileza com o próprio corpo e sentimentos, buscar um lugar onde a fala, os sentimentos, emoções envolvidos no processo de obtenção do sobrepeso possam ser acolhidos e compreendidos sem julgamentos.

Dificilmente conseguimos encontrar uma solução para um problema quando não compreendemos o contexto problemático que faz com que uma situação assuma esse lugar em nossa vida. Assim, compreender o nosso lugar na constituição e manutenção do problema o qual enfrentamos, é sempre o passo fundamental que leva a produção de um caminho no sentido da solução.
.
@glendaalmeidapratt
Glenda Almeida Pratti
Psicóloga e Psicanalista
.
#autocuidado
#amorproprio
# sobrepeso
#transtornoalimentar
#obesidade
#cuidadonaalimentacao
#cuidadoalimentar
#psicologia
#psicanalise