quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Sobre a indecisão

Por: Glenda Almeida Pratti

"O perfeito homem do mundo seria aquele que jamais hesitasse por indecisão e nunca agisse por precipitação".
Arthur Schopenhauer


Percebe-se que nos dias de hoje, a dúvida é vista como um sinal de fraqueza, característica daqueles que “não sabem o que querem da vida”. Ouvimos nas mídias em geral, os conselhos de especialistas dizendo que “as empresas estão buscando pessoas decididas” e que “sabem o que querem”, de modo que, para eles, desenvolver essa característica não é uma opção, mas sim “uma necessidade de mercado”.

Talvez, tenham razão. O mercado deve esperar por esse tipo de perfil profissional, até porque, imagine como seria para uma instituição ter em seu quadro profissionais que não consegue tomar decisões em momentos importantes para a empresa?

Mas e você? Que tipo de perfil prefere para se relacionar na sua vida pessoal? Para ter uma amizade ou para construir um relacionamento amoroso? Será que essa característica, tão difundida nas mídias é realmente primordial? Será que com o tempo não acabamos incorporando como valores para nossa vida pessoal os valores difundidos por uma visão utilitarista e comercial de mundo?

E as pessoas, são descartáveis? O que fazer com aquelas que não desenvolveram ou não nasceram com a característica de “ser uma pessoa decidida?" O que garante que uma vez indecisas, essas pessoas serão sempre assim? 

Vamos imaginar uma coisa: Como essa pessoa dita “indecisa” ou “confusa” pode desenvolver sua capacidade de tomar decisão se no mundo de hoje, não há espaço para a dúvida e para o não saber? 

O desenvolvimento de qualquer tipo de habilidade pressupõe um tempo para ocorrer. Aprendemos a tomar decisões quando adquirimos experiência e sabedoria. Saber tomar uma decisão é conseguir lidar com tudo aquilo que acompanha uma escolha. 

Quando decidimos alguma coisa, fazemos uma aposta com base nas nossas crenças, valores e expectativas. Não conseguir tomar decisões pode ser consequência de um conflito interno, por isso, é importante saber enxergar para além do que se vê, ou ainda, ouvir para além daquilo que os outros dizem que é bom pra nós. 

Saber tomar decisões não significa tomar decisões corretas. Saber tomar decisões tem mais a ver com compreender os desejos, motivações, expectativas envolvidas na escolha realizada.

Sabemos que noções como certo e errado são muito relativas. É importante se perguntar sobre o que significa para cada pessoa ter certezas. Será mesmo que na vida somos capazes de ter certeza das coisas antes de elas acontecerem? Quando o assunto é tomar  uma decisão será mesmo que é possível de ante mão saber se uma decisão é correta ou não? E as certezas, são fixas ou transitórias?Será que quando dizemos ter certeza de alguma coisa, nós a temos de verdade ou só acreditamos tê-la? Acreditar que se tem certeza é o mesmo que ter certeza? Nesse sentido, quando será que temos maior propensão a nos enganar, quando temos certeza ou quando temos dúvidas?

Ter dúvidas não é um problema, pois ninguém nasce sabendo. A construção do conhecimento e da sabedoria ocorrem com o tempo e a experiência. O problema é achar que a solução para as coisas é não ter dúvidas. Será que não ter dúvidas é um caminho possível de seguir no mundo real? 

A dúvida e o não saber são estados possíveis de ocorrer em qualquer tipo de situação. Eles podem ser transitórios, podendo ser superados com dificuldade ou facilidade dependendo do contexto; mas também podem ser uma realidade dentro de uma situação específica. 

É muito importante conseguir lidar com a falta, pois os problemas da vida não se resumem a saber ou não sobre uma determinada coisa. Em algumas situações podemos ter respostas, opiniões e ainda assim, não estarmos seguros para expressá-los ou simplesmente, podemos não ter uma resposta para dar em um determinado momento, o que não quer dizer que não a teremos no futuro. 

A convicção ferrenha pode ocultar uma grande insegurança de expor as próprias faltas, daí a tentativa de preencher todas as lacunas com respostas prontas ou certezas absolutas; justamente para não parecer aos olhos dos outros uma pessoa fraca. Contudo, ter dúvidas ou não saber tudo por si só em nada estão relacionados com fraqueza ou algo do tipo. Não saber ou ter dúvidas são estados importantes para o desenvolvimento humano pois eles nos impulsionam a buscar ou construir compreensões sobre a realidade. Já as certezas absolutas nos paralisam e impedem de imaginar e criar novas realidades possíveis.