segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Avaliação psicológica no contexto de cirurgia bariátrica


Por: Glenda Almeida Pratti




A avaliação psicológica de pacientes candidatos à cirurgia bariátrica é uma prática recente e necessária. A presença obrigatória de psicólogos em equipes de cirurgia bariátrica foi oficialmente instituída por meio da resolução nº 1766/05 do Conselho Federal de Medicina. Esse procedimento de avaliação tem como função verificar as condições psicológicas do candidato à cirurgia analisando se o mesmo encontra-se apto a lidar com as mudanças às quais será submetido na fase pré e pós-cirúrgica. Muitos pacientes não sabem que a avaliação psicológica realizada para esse fim vai muito além da identificação da aptidão momentânea para a cirurgia. 

A cirurgia bariátrica é uma intervenção realizada no aparelho digestivo para reduzir o reservatório gástrico. É um procedimento indicado a pacientes para o tratamento da obesidade visando a redução de peso. Esse tipo de intervenção acarreta numa reorganização da vida da pessoa em grandes proporções impondo a ela, dentre outras mudanças, uma nova rotina de hábitos cotidianos que começam no período pré-cirúrgico e se estendem durante toda a vida, além de interferir na imagem corporal que a pessoa tem de si. Essas mudanças incluem alterações no modo como a pessoa lida com o próprio corpo, com a comida, com o prazer e também no modo como se relaciona com as outras pessoas. Alterações essas que nem sempre são fáceis de realizar, mas principalmente, não são fáceis de sustentar da forma necessária. Assim, avaliação psicológica tem como finalidade identificar se o paciente em questão reúne recursos psicológicos para lidar com todas as etapas desse processo. 

Desse modo, a indicação é de que o paciente, candidato à cirurgia, receba acompanhamento psicológico em todas as etapas do processo e não apenas na fase anterior à cirurgia. Isso significa dizer que a avaliação não termina após a identificação da aptidão inicial do paciente para a intervenção e deve se estender para o período pós-cirúrgico, no qual se encontram os maiores desafios.

A forma como é realizada a avaliação psicológica para cirurgia bariátrica pode variar de acordo com o profissional. Em geral, a primeira fase de avaliação é realizada em algumas sessões, no entanto, o acompanhamento deve ser continuado durante todas as fases do processo. Ressalta-se também que o intercâmbio entre os profissionais que estão acompanhando o paciente (médicos, nutricionistas, psicólogos etc.) é indispensável.

O ganho de peso muitas vezes está ligado a causas emocionais e afetivas e não necessariamente a um descontrole comportamental como alguns creem. O ganho de peso pode ser relacionado ao modo como se lida com o prazer, a frustração e/ou a angustia. Sendo assim, a submissão a uma cirurgia complexa como a bariátrica sem o suporte profissional continuado necessário para trabalhar as questões psicológicas ligadas ao ganho de peso não é indicada.















Crianças também tem problemas


Por: Glenda Almeida Pratti


Com a volta às aulas, é comum ouvir que pais e responsáveis concentram suas preocupações em dois focos: na escolha da instituição onde suas crianças serão educadas e também, na compra do material escolar que será utilizado por elas. No entanto, pouco se ouve sobre a preocupação com implicações que os comportamentos e posturas de pais e responsáveis podem ter sobre os problemas que as crianças podem vir a apresentar durante o seu percurso educacional. Por isso é importante chamar atenção de como os adultos estão lidando com a fase posterior ao ingresso do aluno na escola, ou seja, com o cotidiano de suas crianças.


As dificuldades, desafios e conflitos não aparecem só na vida adulta, eles também aparecem ao longo do processo de desenvolvimento dos pequenos. A rotina infantil é cheia de desafios cuja ultrapassagem proporciona a preparação para a vida adulta. Para isso, é muito importante que as crianças tenham em casa um espaço de diálogo, interesse e escuta sobre suas atividades e rotina. Contudo, muitos pais não acreditam que crianças enfrentam problemas e dificuldades em seu cotidiano, pois nutrem uma crença de que a vida infantil é “simples”, e que dessa forma, os problemas da infância não se caracterizam como “problemas de verdade”. Esse tipo de crença direcionam os pais a adotarem, diante das dificuldades de seus filhos, posturas que ignoram ou negam a existência de questões e conflitos nessa fase. Posicionamentos desse tipo podem ter efeitos negativos no desenvolvimento da criança, tais como: insegurança e baixa autoestima - já que a criança pode interpretar que só ela tem problemas e que sua capacidade de lidar com eles é aquém a capacidade das outras crianças; isolamento familiar - aos poucos a criança perde a confiança que tem na família, deixa de contar sobre a sua rotina, omite eventos importantes de sua vida e pode, inclusive, mentir sobre seus fracassos e frustrações por temer recriminações de seus responsáveis. 

Sendo assim, é importante lembrar que a compreensão e o apoio de pais e responsáveis tem papel fundamental na formação infantil. É na infância que as crianças experimentarão seus primeiros conflitos podendo assim construir e amadurecer recursos para lidar com os desafios, as dificuldades e frustrações tão comuns na vida do ser humano. Desse modo, faz-se necessário que pais ou responsáveis reflitam sobre como estão escutando suas crianças e o que estão fazendo com aquilo que ouvem. Pois, em muitos casos, são as próprias dinâmicas familiares que contribuem para o surgimento de questões psicológicas nas crianças.